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18. VOZES TRANSGRESSORAS NA FICÇÃO DE JORGE AMADO

Valci Vieira dos Santos (UNEB/Campus X)

Aline Nascimento Brito (UNEB/Campus X)

Jorge Amado de Faria (1912-2001) é um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX. É também conhecido pela sua força e fecundidade ao narrar histórias regionais. De acordo com Alfredo Bosi (2006, p. 405), o contador exemplar de histórias se definiu certa feita como sendo “apenas um baiano romântico e sensual”. Na verdade, trata-se de um romancista multifacetado, que deu conta de abarcar as mais diferentes vertentes temáticas. Essa pluralidade de ideias acha-se contemplada na linha de dicção literária evidenciada pelo mesmo Alfredo Bosi, quando traça o universo da obra amadiana: a fase inicial do “romance proletário”, cujo veio poético já anuncia a sua predileção pelos temas e motivos baianos, em especial a vida rural e citadina, a exemplo de seu “ Cacau”, romance publicado em 1933, que narra a história de trabalhadores em fazendas de cacau do sul da Bahia, com suas implicações no mundo da expansão de ideias socialistas e luta de classes; e de “Suor”, romance que tem lugar na vida urbana da cidade de São Salvador, com o seu cotidiano de miséria, promiscuidade e miséria; em seguida, o cenário pintado com as cores do mar ganha contornos especiais na paleta do escritor baiano, carregado de depoimentos líricos e toda a sorte de sentimentos aflorados, como em “Mar Morto”, “Jubiabá” e “Capitães da Areia”; numa espécie de terceira linha sucessória, avulta-se uma literatura com os seus vieses político e ideológico, tendo em “O Cavaleiro da Esperança” e “O Mundo da Paz” os seus porta-vozes principais; a região do cacau se encarrega de dar amplitude aos quadros sociais e políticos delineados pelo romancista baiano, com os seus coronéis e exportadores dando as cartas a verdadeiros épicos de nossa literatura, como em “São Jorge dos Ilhéus” e “Terras do Sem-Fim”; e, para compor esse quadro de mosaicos literários amadianos, romances com jeito de crônicas espalham temas e motivos entre as linhas de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” ou entre as de “Gabriela, Cravo e Canela”, dando legitimidade a vozes altissonantes que fazem ecoar e ressoar costumes provincianos. Essa produção literária fecunda, diversa, é marcada pela sua importância fatual e social, e por isso mesmo eivada de discursos denunciadores em face de estratégias traçadas por pessoas, instituições e grupos organizados que  tentaram e tentam calar as vozes dos menos privilegiados, oprimidos, desplaced, gauche, e que vivem à margem de uma sociedade que cada vez mais se revela sectária. Diante desse estado de coisas, a literatura de Jorge Amado não se queda; ao contrário, faz acionar sua fábrica de transgressões, através da manifestação insubmissa, conflituosa, de combate, reivindicatória, flagrantemente percebida na construção de suas personagens. No conjunto da obra do romancista baiano, como bem vaticina Wladimir Krysinski (2007. p. XXXV-XXXVI), em seu livro Dialéticas da Transgressão, “a transgressão é, assim, uma força de mudança da matéria literária através do aparecimento de novas estruturas”. Nesse sentido, serão bem-vindos trabalhos que discutam: a) a transgressão feminina na obra amadiana; b) a linguagem e a transgressão como expressão literária; c) personagens rebeldes e insubmissos; d) a ironia trágica na obra do escritor baiano; e) herói e anti-herói nas narrativas de Jorge Amado; f) construção identitária nacional e o sentido de transgressão; g) o sincretismo religioso e cultural como estratégia de combate; h) o erotismo como fonte de transgressão em face dos limites e proibições impostos pela sociedade.

 

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